1) Não é injusto da parte de Deus predeterminar homens para serem iníquos? (Judas 4)

Sim, seria injusto que alguém já nascesse predeterminado a ser iníquo e ser condenado por isso, mas não é isso o que o texto citado diz. O texto diz  que havia sido predito com antecedência que tais tipos de pessoas, que fariam parte do anticristo, surgiriam na congregação cristã. No entanto, não foi especificado quem seriam estes, não havendo, portanto, predeterminação pessoal.

Além disso, não existe afirmação de condenação eterna de tais pessoas. Algumas traduções por dizer que a condenação destes já estava sentenciada desde o início, dão a entender que tais pessoas são condenadas para sempre por seu proceder. No entanto, outras versões mostram que tais pessoas estariam sujeitas ao julgamento, ou seja, que embora tenham tido esse papel nas congregações estarão sujeitas ao julgamento de Deus durante o dia do Juízo e, portanto, terão a oportunidade de mudar de proceder nesse dia e obter o favor de Deus. Isso elimina qualquer injustiça por parte de Deus em permitir a atitude rebelde de tais homens.

2) Era Enoque o sétimo ou o oitavo na linhagem de Adão? (Judas 14) A maioria das traduções bíblicas alistas Enoque como o sétimo homem na linhagem de Adão e isso está de acordo com o que é relatado em Gênesis 5:3-21. No entanto, alguma versões, tais como a Versão Católica apresenta Enoque como o oitavo na linhagem de Adão. Possivelmente o tradutor ao fazer a tradução levou em conta a listagem genealógica de Lucas 3:37, 38 contando a genealogia desde Deus e não iniciando em Adão. No entanto, praticamente todas as traduções e manuscritos disponíveis consideram a linhagem iniciando em Adão, como sendo o primeiro humano da linhagem, que dá origem a ela, sendo Enoque o sétimo nela.

Isso ainda esclarece a afirmação de alguns de que Enoque era o sexto na linhagem de Adão e não o sétimo. Mas ao fazerem isso não contam o próprio Adão. É claro que em uma linhagem a pessoa que dá origem à linhagem deve ser contada.

3) Judas 14 afirma que Enoque profetizou "a respeito de" de homens que se infiltrariam na congregação cristã do primeiro século tendo por objetivo desviar os cristãos e obterem vantagens materiais para si mesmos.

No entanto, algumas traduções, tais como a da Sociedade Bíblica Britânica dá a entender que Enoque pregou "a tais" homens e não "a respeito" deles. Esta tradução, evidentemente, não procede, pois Enoque viveu muito antes destes homens e previu a destruição de homens que agem desta maneira. Talvez ele tivesse pregado a tal tipo de pessoa antes do Dilúvio, mas a aplicação nos dias de Judas e nos nossos dias dá a entender que a tradução "a respeito de" é a correta.

4) Essa condenação dos homens ímpios em Judas 14,15 é uma citação do livro de Enoque. Não deveria esse livro ser, então, incluído no cânon da Bíblia Hebraica, assim como é incluído no cânon da Bíblia Etíope? (Judas 15) O simples fato de um livro ser citado na Bíblia não o torna automaticamente canônico. Por exemplo, em Atos 17:28, Paulo cita uma frase de poetas gregos. Nem por isso, a obra onde tal frase aparece é considerada canônica. Para entrar no cânon a Bíblia Hebraica ele deve estar de acordo com todos os demais livros canônicos. O livro de Enoque não satisfaz este requisito, pois apresenta informações sobre os anjos que discordam das que aparecem nos livros canônicos.

Também não existem evidências de que o livro tenha sido escrita por Enoque, antepassado de Noé.  Mesmo que tenha sido, o livro não era suficientemente conhecido na época da compilação da Septuaginta grega, de forma que não foi incluído nela.

Veja também  Cânon Bíblico na página Tópicos. Por hora estamos analisando aqui os livros da Bíblia Hebraica e do Novo Testamento considerados canônicos pelos pais da igreja.